Normalmente a sexta feira santa é sinônimo de pratos a base de bacalhau na casa de muitas pessoas, cristãos ou não, principalmente pelo simbolismo adotado no país fundamentalmente católico. E aqui em casa não poderia ser diferente e a receita é a padrão: feita no forno, com batatas, pimentões, cebola, alho, azeitonas e muito, muito azeite de boa qualidade. E uma oportunidade única para a escolha de um bom vinho para acompanhar a refeição. Como o prato tem sotaque português, procurei um vinho de mesma ascendência para harmonizar. E o escolhido da vez foi um branco proveniente do Douro, o vinho Grainha Branco.
A região do Douro é famosa principalmente pelo vinho do Porto, mas é muito mais do que isso. Ultimamente a região tem sido reconhecida pela qualidade de seus vinhos não fortificados. De uma região improvável para o cultivo de qualquer agricultura, em virtude das grandes inclinações de seus terrenos, o Douro conseguiu transformar os terraços de vinhas em paisagens cinematográficas. E mais do que isso, se tornou uma das regiões emblemáticas de Portugal para o mundo.
Sobre o vinho, a maior curiosidade a meu ver é o nome do vinho, Grainha, que na verdade significa semente das uvas. Durante o processo produtivo as grainhas (sementes) são separadas do mosto antes da fermentação a fim de evitar que sejam extraídos proteínas, taninos, e outros componentes das mesmas. O rótulo trás ainda a palavra grainha escrita em diversos idiomas. Ainda sobre o processo produtivo, a seleção das uvas é manual em tapete de escolha, na entrada da adega. Depois disso, é feito o desengace total e prensagem direta das uvas brancas. Cerca de 50% do mosto fermenta e estagia seis meses em barricas novas de carvalho francês, sofrendo battonage semanal. O restante fermenta em inox a baixa temperatura. Finalmente o vinho tem em sua composição as seguintes castas: 25% Gouveio, 25% Viosinho, 25% Rabigato, 15% Boal, 10% Arinto. Vamos às impressões.
Na taça apresentou uma bonita cor dourada, límpida e brilhante, com poucas e lentas lágrimas incolores.
Ao nariz o vinho se apresentou tímido de começo mas com pouco tempo e mtaça mostrou toda sua complexidade. Abriram-se notas de frutas cítricas, mel, amêndoas e ao fundo, um leve tostado. Nada muito gritante mas denotando boa complexidade.
Na boca o vinho se mostrou gordo, untuoso e preenchendo bem toda a mesma. Confirmou as notas cítricas, mostrando ainda alguma coisa de mineral com um final quase salgado, se vocês podem me entender. Acidez muito viva mantém o frescor do vinho, que se mostrou um pouco quente também, de início, sensação esta que diminuiu com o tempo.Casou bem com o bacalhau preparado aqui em casa.
Mas um bom vinho, de um país que eu já devo ter comentado por aqui ser um de meus preferidos, pelo excelente custo benefício que sempre apresenta em seus vinhos. Este foi adquirido na importadora Vinea por meio de suas degustações semanais aos sábados. Valeu a compra.
Saúde.
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