Esta é uma discussão que eu sempre vejo no mundo do vinho e só se fez crescer por que em minhas últimas aulas do curso estivemos discutindo vinhos do novo mundo (Argentina, Chile, Austrália, Nova Zelândia, EUA, África do Sul, etc.) e em sua maioria o que vemos são vinhos com níveis (graus) de álcool normalmente acima de 14%. Evidentemente o álcool vem da reação de fermentação do açúcar das uvas e seu nível está intimamente ligado a maturação das uvas, que por sua vez é auxiliado pelo calor proveninente do ambiente para tal.
crédito da foto: call construtora web site |
Coincidentemente após ter discutido um pouco este assunto, estava hoje fuçando na internet sobre a possibilidade de assinatura da revista Decanter quando me deparei com uma matéria que tratava deste assunto e vou colocá-la em discussão por aqui. Lembrem-se que a tradução é por minha conta e por isso pode não ser a mais fidedigna possível. Se quiserem ler a matéria na íntegra, eu sugiro que acessem o site da revista.
Voltando ao assunto motivo deste post, segundo a reportagem de Hazel Macrae, o aquecimento global pode não ser o responsável pelo aumento significante do nível de álcool nos vinhos de uma forma geral. Ele baseia sua reportagem em um estudo americano divulgado que joga uma certa dúvida nas alegações dos enólogos/vinicultores que constantemente jogam a culpa da elevação dos níveis de álcool em seus vinhos. Este estudo foi feito pela American Association of Wine Economists que analisou os dados do clima e suas variações desde 1992 até 2009. Além disso, compreendeu ainda uma amostra de aproximadamente 130 mil vinhos de todo o mundo, sendo destes 63% tintos e o restante de brancos. O estudo apontou que o indíce de calor na maioria dos países produtores de vinhos cresceu menos do que o incremento dos níveis de álcool dos vinhos dos mesmos sendo que este índice pode não ter sido o fator contribuinte principal para tal aumento. Nesta mesma pesquisa ainda, pode se apontar que o nível médio de álcool subiu mais de 1,12% durante o período do estudo mas que o esperando levando em conta o incremento de temperatura não deveria ser mais do 0,05% ao ano. O estudo ainda mostrou discrepâncias no valor do nível de álcool real x o apresentado no rótulo e os motivos que levariam a isto, mas não é bem o foco deste debate.
Eu tendo a concordar em partes com o que foi apresentado uma vez que, em tese, se tivermos realmente níveis alarmantes de incrementos de temperatura, cabe ao enólogo lançar mão de todas suas técnicas para que se tenha vinhos equilibradose haja maior controle nos níveis de álcool. Se existe realmente o calor excessivo, por que não verificar a maturidade ideal de cada casta e efeuar colheitas em diferentes épocas, talvez um pouco mais adiantadas, a fim de preservar outras características da uva, como a acidez natural? Ou ainda a busca de terroirs diferentes com utilização de vinhedos de altitude, diferente exposição solar, etc ?
Vale lembrar que um fator tremendamente contribuinte para que isto ocorra é a falta de regulamentação e fiscalização nos países do novo mundo, diferentemente do que assistimos na França por exemplo com suas AOCs. No novo mundo é permitido, por exemplo, acidificação e correções químicas nos vinhos que possam ter vindo de uvas maduras em excesso e com falta de acidez. É claro que existem exceções e enólogos/vinícolas que trabalham com maior afinco e buscam uma qualidade espelhada muitas vezes em países do velho mundo. Como o autor finaliza a reportagem, eu também acredito que foram deixados de lado principalmente os fatores culturais e de padrão de consumo, mercado e crítica especializada que levam a crer que o aumento dos níveis de álcool podem vir da ação do homem.
E para você leitor, qual é sua opinião?
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