Ontem tive uma oportunidade muito interessante de participar de uma degustação da Comissão Vitivinícola Regional do Tejo, região demarcada de vinhos de Portugal, realizada no restaurante Praça São Lourenço em São Paulo. Neste post tentarei descrever como aconteceram as atividades, destacarei alguns vinhos que achei interessantes e tentarei compartilhar o máximo de informações possíveis com vocês, caros leitores.
Primeiramente falemos um pouco da região do Tejo, em Portugal, que até 2009 era conhecida como Ribatejo e também por produzir vinhos sem muita preocupação com a qualidade e em grandes quantidades. Apesar disso é reconhecidamente uma das regiões produtoras de vinho mais antigas do mundo, datando da Idade Média. Com o intuito de mudar esta imagem, principalmente para os mercados internacionais, os produtores em consenso com os órgãos reguladores de Portugal resolveram modificar um pouco a demarcação da área, modificar o nome e focar na produção de maior qualidade para alavancar seus vinhos aproveitando o bom momento que o país vive em relação a seus vinhos mundialmente, sendo considerados de melhor custo benefício quando tratamos de vinhos do velho mundo. Se aproveitando da presença do Rio Tejo, que corta a região no sentido norte-sul quase que em duas metades, adotaram o nome Tejo notadamente com o intuito de associar a região vitivinícola ao rio. Aliado a estas mudanças tivemos um grande salto qualitativo na qualidade dos vinhos produzidos e nos processos enológicos empregados para tal. Encravada em uma região onde o clima se encontra em um meio termo entre o atlântico e o mediterrâneo, ainda com a influência do rio Tejo que ameniza as temperaturas e o clima, com solos entre o aluvião e o arenoso, pobres, seus vinhos tem se apresentado amigáveis, com estilo moderno (se utilizando de castas internacionais para tal), onde uma boa acidez contra contrabalanceia com boa fruta e preços acessíveis.
Voltando ao evento de ontem, cheguei ao local marcado por volta das 15h para participar de uma palestra organizada pelo pessoal da ABS apresentando a região para os participantes, divulgando algumas características e fazendo um painel de degustação comentado com 8 vinhos de diferentes produtores. Pelo que sei anteriormente a isto a comissão regional do Tejo fez uma apresentação mais fechada para mídia e profissionais especializados. A palestra basicamente descreveu os assuntos que eu tentei compartilhar no parágrafo acima, por isso não serei repetitivo. O que mais interessava realmente era conhecer os vinhos e se realmente seriam bons. Após esta palestra pudemos entrar em contato com produtores e importadores que trabalham com os vinhos do Tejo. Além disso tinhamos uma grande mesa que contava com queijos, pães, embutidos e alguns outros petiscos para acompanhar os vinhos. Tudo muito bacana ainda que, a meu ver, o espaço disponível para a degustação e conversa com os produtores era um pouco pequeno e o acesso as mesas se tornava moroso. De qualquer maneira, tudo acabou se saindo muito tranquilo e pude conhecer alguns vinhos muito interessantes. No próximo parágrafo tentarei colocar alguns vinhos que me chamaram a atenção e que podem ser boas opções, dependendo é claro do preço final praticado no nosso mercado. Incluirei todos os vinhos destacados no mesmo parágrafo, sejam eles da palestra ou das mesas de degustação, dividindo-os por produtor, a meu ver facilitando a leitura.
É preciso destacar em primeiro lugar que os vinhos se mostraram em sua maioria muito macios, fáceis de se beber, com muito frescor e sem aquela carga tânica exagerada, aparentemente em sintonia com o paladar mais comum nos dias de hoje.
Do produtor Agro-Batoréu, eu destacaria o Terra Silvestre 2009, um vinho jovem, pronto pra beber, com muita fruta e ligeiro toque herbáceo e muita persistência. Me parece que é o vinho de entrada da vinícola e não tem preço nem importador definido no Brasil, o que pode ser uma grande oportunidade de mercado.
Passando agora ao produtor Casal Branco, antigo e conhecido produtor português, se fosse para ser sincero, quase toda sua linha de produtos apresentados se mostraram de boa qualidade em seus nichos de mercado, porém eu destacaria: Terra de Lobos 2009, vinho de entrada da vinícola, boa fruta, taninos macios, boa acidez e nenhum amargor; Falcoaria Branco 2008, muito fresco, bom corpo, pedindo sempre mais um gole; Falcoaria Clássico tinto 2008 e o Falcoaria Reserva tinto 2007, vinhos considerados de alta gama da vinícola, ambos classudos, mais encorpados, boa fruta mas já com aromas de evolução como couro, especiarias, alguma coisa de côco e baunilha, enfim mais complexos e potentes que valem ser conhecidos. Estes são trazidos pela D’Olivino, mas os preços podem ser mais salgados para os dois últimos especialmente.
Já do produtor Casa Paciência eu destaco o Quinta do Chabouco 2010, frutas negras, côco, exelente acidez deixando o vinho extremamente vivo, boa persistência. Infelizmente o vinho ainda não apresenta importador no país, mostrando ai mais uma janela de oportunidade.
Um produtor já conhecido que eu revisitei e conheci outras opções é o Fiuza & Bright, cujo o vinho 3 Castas eu já havia provado (relembre aqui). Mas os destaques, a meu ver são: Oceanus Tinto 2009, simples, frutado, vinho de entrada da vinícola e que é ótimo para bebericar em uma conversa com amigos; Fiuza Premium tinto 2008, muita fruta escura, tostado, chocolate amargo, boa acidez, complexo e persistente; Fiuza Ikon tinto 2008, top da vinícola, encorpado, taninos mais presentes mas de muita qualidade, pede comida e deve ir bem com carnes de caça, por exemplo. Estes vem pro Brasil pela Vinea, e vale a visita na loja ali do paraíso.
Outro vinho que revisitei com um pouco mais de calma foi o Mythos tinto 2007, do produtor Quinta do Casal da Coelheira, top da vinícola que apesar de toda complexidade, apresentando aromas de café torrado, fruta em compota, chocolate e floral tem um final um pouco curto e um preço que talvez não justifique o investimento, mas o vinho tem qualidade! Este vem pela Max Brands.
Por último mas não menos importante, um rosé um pouco diferente, feito com 100% Aragonez (Tinta roriz ou ainda como os espanhóis a conhecem, Tempranillo), o Terras de Touros Rosé 2010. Bons aromas de fruta, muito frescor, mais encorpado e escuro que os rosés convencionais e que pede sempre mais um gole. Este por sua vez do produtor Quinta do Casal Monteiro e que pelo que vi não tinha importador, mas não estou com certeza absoluta.
Este é o resumo do evento. Espero que tenham gostado.
Até o próximo.