A edição 2013 do Decanter Wine Show estava de cair o queixo. Muitas vinícolas interessantes, enólogos entusiastas, produtores atenciosos e um espaço bem agradável. O evento tinha como foco o novo mundo e aconteceu no famoso e estiloso hotel Tivoli Mofarrej em São Paulo. A seguir algumas impressões e destaques da feira, sob minha ótica. Vale lembrar que existiam muito mais vinhos para serem provados mas que dentro do que pude degustar, estes valeram as linhas a seguir. Além disso tudo, tive a ilustre companhia do mestre Walter Tommasi (da revista Go Where Gastronomia e blogueiro) que me deu uma verdadeira aula de degustação!
Comecei meu giro pelo novo mundo por um produtor nacional que foi uma grata surpresa pra mim, pois nunca havia provado nada seu. Estou falando da vinícola Quinta da Neve, situada na Serra Catarinense, nascida em 1999 e pioneira na região na produção de vinhos. Deles, destaco dois vinhos muito agradáveis: o Sauvignon Blanc 2011, bem claro, brilhante e transparente com bastante tipicidade trazendo frutas cítricas, muito floral e extremamente fresco; e um belo Pinot Noir 2010 (segundo muitos o melhor vinho da vinícola) bem característico, coloração clarinha, transparente com muita fruta vermelha fresca no nariz e toques florais no nariz, leve, elegante e fácil de beber! Ah, e eles trouxeram um rosé pouco convencional também que ainda não foi lançado mas tem tudo pra fazer burburinho por ai.
Depois, fiz a volta ao mundo e fui parar na Nova Zelândia. Confesso que pouco bebi de vinhos vindos de lá, mas a vinícola Wild Rock me chamou atenção por seus vinhos bem feitos e de bom custo benefício. A Wild Rock veio com um Sauvignon Blanc, um Pinot Noir mas uma combinação pouco usual por lá foi o vencedor aqui. Eu estou falando do Wild Rock Gravel Pit Red 2008, um blend de Merlot e Malbec que segundo o pessoal da Decanter, vem de um solo pedregoso originário de um fundo de rio que trás muita elegância, complexidade e vivacidade para o vinho sem se tornar pesado ou cansativo, vale conhecer.
Voltando ao nosso continente, era hora de revisitar alguns vinhos que havia provado in loco, na vinícola El Principal e ainda ver o que de novo eles tinha para apresentar. E não me decepcionei pois as novas safras do Calicanto e do Memórias continuam incrivelmente deliciosas e consistentes com as que provei anteriormente. Mas daqui dois vinhos me chamaram a atenção, pois não os havia provado ainda: o Auqui Sauvignon Blanc 2012, um bom exemplar do Maipo com muito frescor, frutas e toques herbáceos e o top da casa, o El Principal 2008, composto de 95% Cabernet e 5% Carmenere se mostra ainda jovem, mas extremamente elegante, carnudo, frutas maduras, chocolate, especiarias num fundo balsâmico. Delicioso e que aguenta a garrafa por um bom tempo ainda.
Era hora de visitar os hermanos argentinos e coube a vinícola Riglos de Tupungato (ainda que com um chileno disfarçado trabalhando e apresentando a vinícola) fazer as honras da casa. E já vou avisando, vinhos extremamente elegantes, frescos e sem aquela pujância hermana podem ser encontrados aqui. Dois destaques pessoais tambem: o Riglos Quinto Sauvignon Blanc 2012, muito elegante, mineral (quase como lamber pedra molhada), fresco ao extremo sem lembrar aqueles vinhos cansativos e adocicados comuns na região e o Riglos Gran Cabernet Sauvignon 2009, esse de uma estrutura e elegância ímpares, muita fruta escura, especiarias, toques de baunilha com taninos marcados e de excelente qualidade e acidez deliciosa e voluptuosa, pra mim o melhor sem dúvida!
Na sequência duas casas sul africanas. A primeira é a
Glen Carlou, distante 35km da Cidade do Cabo com seus vinhos grandes e gulosos mas nem por isso deselegantes. Destaco aqui mais dois vinhos interessantíssimos: O
Glen Carlou Quartz Stone Chardonnay 2010, grande, gordo, porém de extrema riqueza e elegância. Aromas de frutas brancas e tropicais, toques de madeira e mel com algo mineral ao fundo. Fresco e denso; e o
Grand Classique 2008, este um blend tinto com 5 uvas (Cabernet Franc e Sauvignon, Merlot, Malbec e Petit Verdot) com um mix de frutas escuras e vermelhas, algo de coco e café torrado. O enólogo presente era extremamente solícito e trouxe de surpresa um chardonnay sem barricas que embora não seja comercializado por aqui, fez algum sucesso na feira. Depois a segunda casa sul africana era a Raka, com belos blends complexos e que precisam de tempo em garrafa (taça/decanter/etc.) pra mostrarem todo seu explendor. De lambuja, pude conhecer ainda a filha do produtor, Jorika Dreyer que muito atenciosa e simpática mostrou toda a linha disponível para degustação. Eu já havia provado um vinho deles, o
Raka Figurehead, em sua safra 2004 (
aqui) e só confirmei o quanto o vinho é delicioso. O meu destaque da feira então vai para o
Raka Biography Shiraz, um belo exemplar com muito corpo, elegância, fruta madura e pimenta no nariz e em boca, além de um final pra ficar na memória, sem dúvida o meu preferido. Segundo Jorika, é o vinho de sua história de vida!
Voltando ao Chile, me deparei com a famosa por aqui De Martino e seus excelentes vinhos, seja qual for a linha selecionada para degustar, além é claro de Marcelo Retamal, o homem responsável pelo projeto "barricas free" que foi implantado na vinícola. Escolhi então destacar dois vinhos pouco usuais: o primeiro, o Viejas Tinajas Edición Especial 2012, vinificado em vasos de argila e feito para venda apenas no Chile na bodega, um blend tinto muito alegre, fresco e frutado e que faz parte das degustações nas visitas a bodega; e o Gallardia del Itata Cinsault 2013, que ainda estava nos tanques mas trouxeram alguns poucos exemplares para mostrarem na feira. Um vinho diferente, com maceração carbônica e que muito lembrou os gamays e beaujolais de boa qualidade. Framboesa fresca no nariz, muito frescor em um vinho para se beber de garrafa sem perceber.
Já era hora de fechar meu ciclo pelo novo mundo e minha última parada foi os EUA, onde destaco dois vinhos de vinícolas distintas. Primeiro a vinícola Sequana Vineyards e seu belo Pinot Noir Sundwang Ridge Vineyard do Russian River. Muita tipicidade, frutas frescas, fósforo, animal, num corpo médio e taninos macios e redondos, um vinho pronto para se beber. E pra finalizar, não poderia faltar um Cabernet do Napa Valley com o 19 Block Cuvée Mount Veeder 2008 , da Hess Collection, musculoso, voluptuoso, mentol, fruta escura, firme e complexo tanto no nariz como na boca, vinhaço!
O que dizer de um evento como esse? Sucesso absoluto! Grandes novidades e surpresas, muito vinho de qualidade e diversidade de paladares, mesmo se tratando do novo mundo. E olha que ainda tinha muito mais vinhos que provei e a se provar. Ansioso pelo próximo evento.
Até o próximo!