Notadamente quando falamos de vinhos, a maioria das pessoas logo cita a França como o país produtor mais conhecido no mundo vinícola. E não é para menos, eu cito aqui pelo menos quatro das mais famosas regiões vinícolas do mundo e que se encontram na França: Bordeaux, Bourgogne, Provence e Champagne. E claro que não está limitada a estas regiões, mas fica claro a importância do país quando falamos de vinhos. Só que recentemente os produtores do país tem recebido duros golpes vindos de autoridades e de estudos recentes. Vejamos o que eles tem enfrentado.
Em um estudo recente, uma revista de consumo francesa em conjunto com um renomado laboratório de enologia levantou sérias questões relacionadas ao uso de pesticidas e o efeito de seus resíduos em grandes rótulos franceses (incluindo ai Mouton Cadet e outros 7 vinhos do produtor Castel). Este estudo analisou cerca de 92 vinhos franceses em relação a 165 produtos químicos utilizados no tratamento das vinhas. E a primeira vista os resultados foram preocupantes. Trinta e três produtos químicos encontrados em fungicidas, inseticidas e herbicidas apresentaram-se nos vinhos e cada vinho apresentavam algum traço detectável de produtos químicos. Pior, alguns compostos proibidos para uso na França e não aprovados em outros países para uso alimentício também foram detectados em algumas amostras.
Analisando com mais parcimônia porém, suspeitas foram levantadas sobre o estudo uma vez que o mesmo aconteceu em paralelo a organização de uma feira de vinhos franceses promovida por supermercados do país e os vinhos analisados variavam de 2 a 20 euros e eram vendidos em larga escala nos mesmos supermercados. O laboratório responsável pelo estudo logo se prontificou a desmistificar os resultados. Segundo o enólogo responsável pelo estudo, os consumidores devem ficar calmos pois o resultado, salvo raras exceções, era mais do que satisfatório. O traço residual era muito leve e mesmo nos casos extremos e mais altos, ainda dentro da legislação. Mesmo assim, muitos leitores, consumidores e pessoas do meio entendem que algo deva ser feito na direção da diminuição dos níveis de químicos nas vinhas por entenderem que mais do que o vinho, existem as terras vizinhas, as pessoas que trabalham nos vinhedos e as comunidades que circundam tais vinhedos e que podem estar recebendo cargas mais altas de exposição aos químicos.
Embora muito trabalho tenha sido feito na direção do uso zero de químicos nos tratamentos dos vinhedos, sabemos que ainda estamos muito longe disso. Não existe ainda uma legislação clara e específica sobre o uso de tais produtos em tratamentos das vinhas e por isso, ainda pouco pode ser dito. Mas a discussão já começou.
Por outro lado, um novo projeto de lei no senado francês pede o aumento dos impostos sobre as bebidas alcoólicas e também avisos mais fortes de saúde em rótulos e novas restrições à publicidade e marketing dos mesmos. Seria o vinho francês uma parte da identidade nacional e um contribuinte importante para a economia ou um perigo para a saúde pública? Esta proposta irritou em demasia os vinicultores franceses que, em contrapartida, criaram uma campanha para contra atacarem sob o mote de não serem tratados como traficantes de drogas uma vez que o vinho faz parte de sua cultura e gastronomia desde sempre, gerando uma pressão popular contra o que intitulam uma "pressão moral e financeira".
A nova lei de saúde , defendida pelo ANPAA ( Associação Nacional para a Prevenção do Alcoolismo e da Toxicodependência ) , propõe um "imposto de comportamento", o que é permitido em um produto considerado perigoso para a sua saúde e destina-se a impedir o consumo. O projeto de lei de saúde também propõe mudar o aviso governamental atual nos rótulos de vinho e outras bebidas alcoólicas de "o abuso de álcool é perigoso para a saúde" para "o álcool é perigoso para a sua saúde". A polêmica medida ainda segue e o ANPAA também quer pôr fim ao uso das mídias sociais , citando o Twitter, Facebook e blogs (pô, você tá de sacanagem né?), para falar e promover o vinho, principalmente quando ele é associado com temas como o sucesso, esportes e sexo.
Alguns médicos e especialistas defendem que o consumo de álcool é algo não necessário, todo e qualquer consumo traz risco (mesmo que em pequenas proporções) a saúde dos consumidores. Além disso, afirmam ainda que existe o custo social envolvido com tratamentos para alcoólatras pelo governo entre outros. Recentemente porém, depois de muito lobby do setor, o governo recuou em parte desta medida e retirou do projeto de lei a parte relacionada ao controle de mídia. Existem porém políticos que são contro, como o ministro da agricultura e o prefeito de Bordeaux, por exemplo, afirmando que o setor é um monstro quando se refere a criação de empregos e também nos números positivos gerados ao dinheiro vindo das exportações. Há quem defenda que mais do que criar novos impostos, o governo deva ainda usar o que arrecada com mais sabedoria (qualquer semelhança com a bananalândia que vivemos é merca coincidência).
Medidas polêmicas, publicidade contrária, tudo isso em cima de um gigante produtor e consumidor de vinhos. Imagino que, dadas as devidas proporções, a maneira como tratamos o vinho no Brasil é quase a mesma que querem implementar lá, taxando o vinho como bebida alcoólica (impostos mais altos), sem publicidade (ou falta de, como vemos por aqui) e sem os devidos incentivos. O que você acha, prezado leitor? É uma dicussão no mínimo interessante. Deixem seus pensamentos e idéias a respeito nos comentários do blog ou na fan page do blog no Facebook. Nos vemos por lá.
Até o próximo!
Fonte: www.winespectator.com
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