O Uruguay é um país cuja a produção vitivinícola quase que totalmente se baseia em produções familiares e colheitas manuais, o que faz com que sua produção não seja lá das mais expressivas em comparação com os outros gigantes mundias e até mesmo com nossos hermanos argentinos e chilenos. Mesmo assim, o Brasil abocanha quase que metade do que de lá se exporta, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Por isso o mercado brasileiro tem ganhado cada vez mais a atenção das ações de marketing e feiras itinerantes da Wines of Uruguay e das bodegas em si. E todos sabemos que em se tratando de Uruguay, a associação mais obvia que é feita é com os vinhos da uva Tannat. E isto não é por acaso, afinal o Uruguay resgatou esta uva francesa de origem na região do Madiran , no sul da França, e hoje conta com cerca de 3000 hectares plantados da uva em seu território, aproveitando alguns do seus melhores e únicos terroirs, sendo o maior produtor da uva no mundo.
Entretanto, os produtores da Wines of Uruguay mostraram também novas facetas relacionadas a outras uvas que tem se adaptado muito bem ao seu terroir e, mesmo usadas em cortes ou sozinhas, tem começado a brilhar por lá também. E eu vou tentar fugir um pouco do comum e separei alguns poucos vinhos dentre os 24 produtores presentes no dia do evento para tentar demonstrar esta tese. Vamos a eles?
Garzón Albariño Varietales 2014: A uva Albariño tem se mostrado em plena forma em terras uruguaias e este vinho da
Bodegas Garzón é um bom exemplo. Quando
Alejandro Bulgheroni e sua esposa
Bettina descobriram
Garzón em 1999, viram nela sua “pequena Toscana em Uruguai”. Assim, entre olivedos e vinhedos, começaram a projetar
Bodega Garzón em uma zona privilegiada do Uruguai, próxima a Punta del Este, La Barra e José Ignacio, o paraíso turístico uruguaio. Este exemplar feito com 100% de uvas
Albariño também tem um diferencial: permanece sur lie por um período com o intuito de se agregar complexidade. Como resultado temos um vinho que se destaca por suas notas florais e de frutos como pera, abacaxi entre outros. Já em boca é mais gordo do que normalmente encontramos em um
Albariño, com um quê mineral e sua bela acidez, que o tornam longo e saboroso.
Artesana Tannat Zinfandel Merlot Edición Limitada 2013: Aqui além deste corte pouco usual (Zinfandel no Uruguay?) temos uma curiosidade sobre a
Artesana Winery: quem comanda a festa são apenas mulheres, duas enólogas para ser mais exato,
Analía Lazaneo e
Valentina Gatti. Situada na região de Canelones, a vinícola nasceu em 2007 nas mãos de um americano. Este vinho é composto por 55%
Tannat, 25%
Zinfandel e 20%
Merlot, que são vinificados separadamente e envelhecidos por 24 meses em barricas de carvalho francês para enfim formarem o blend final. O resultado é um vinho encorpado, denso, com aromas de frutos escuros, tabaco, caramelo, bala toffee e algo de floral. Em boca seus taninos são macios com uma boa acidez e final de média duração. Pra mim, este foi o melhor vinho da masterclass que ante veio a degustação aberta.
Viña Progreso Sangiovese 2008: A
Viña Progreso é o projeto experimental de
Gabriel Pisano, onde ele está sempre tentando descobrir algum vinho ou técnica nova para aplicar a sua produção. Esta uva de origem italiana não é comumente utilizada no
Uruguay mas aqui,
Gabriel mostra toda sua paixão, utilizando uma plantação de alta densidade de plantas com produção baixissima por planta, concentrando mais os cachos e obtendo ótimos resultados. Um vinho 100%
Sangiovese que após todo processo fermentativo (alcoólico) passa de 9 a 12 meses em barris de carvalho para fermentação malolática e envelhecimento. Resulta em um vinho de corpo médio e pronto para o consumo, mas que por sua estrutura (corpo, acidez e taninos) tende a ficar ainda melhor com tempo em garrafa. Trás aromas de frutos vermelhos, flores e leve toque de baunilha. Vale conhecer este e os outros vinhos deste
Pisano "dissidente".
Sauvignon Gris 2015: Produzido pela
Filguera Vinedos y Bodega, uma das poucas vinícola que me parece fugir desta imagem familiar e boutique, este vinho é produzido em
Canelones com uma uva parente da
Sauvignon Blanc (muitos dizem se tratar de uma mutação), a
Sauvignon Gris (100%). Não passa por madeira. Temos então um vinho de uma cor quase prateada de tão clara que é, trazendo no nariz muitos frutos tropicais e cítricos com leve toque de flores brancas. Em boca é leve, muito fresco e com um final de média duração. Me pareceu muito a cara do Brasil e das temperaturas elevadas que por aqui temos, mesmo no inverno.
É claro que existiam muitos outros vinhos interessantes por lá e bodegas a conhecer, mas a idéia aqui foi mostrar uma mínima parte de como o Uruguay pode ser conhecido muito além da uva Tannat. Espero que tenham gostado e se puderem, provem vinhos diferentes, uvas diferentes sem qualquer preconceito, é isto que faz do vinho um universo tão fascinante.
Até o próximo!