Eu confesso que sempre fui muito cético com vinhos nacionais, embora tenho visto uma boa evolução nos últimos anos, principalmente no tocante ao uso do termo terroir único e coisas correlatas. Afinal, mundo a fora, o termo terroir é empregado a locais "seculares" e que possuem toda uma cultura ancestral quando falamos de cultivo de uvas e produção de vinhos, coisa que o Brasil ainda não tem a curto e médio prazo. De qualquer forma, a descoberta de novas regiões produtoras de vinho de qualidade aqui no Brasil tem despertado atenção e portanto eu, como apreciador da bebida de Bacco, quis conhecer mais sobre o assunto. E em mais um "capítulo" da viagem enoturística adquirida junto a Stelltour Viagens, uma agência de viagens que tem como mote viagens com destinos relacionados ao vinho, fomos brindados com a visita a uma das vinícolas que muito tem se falado aqui no Brasil e também em alguns lugares do mundo, a Vinícola Guaspari.
A menos de 200 km de São Paulo encontramos a cidade de Espírito Santo do Pinhal, que possui aproximadamente 50.000 habitantes, onde está localizada a Vinícola Guaspari, uma das mais belas e premiadas vinícolas nacionais. O início da vinícola se deu em 2001, pelo menos conceitualmente, com a chegada de uma família muito ligada ao campo a esta região tradicionalmente cafeeira e identifica condições muito favoráveis à viticultura e depois fisicamente falando, com a aquisição de uma antiga propriedade, já em 2002. A altitude, clima seco, amplitude térmica elevada principalmente na época da colheita e demais característica do local foram o chamariz.
Na companhia de uma enólogo da casa, o passeio se inicia em frente a um imponente logo da empresa e segue até os vinhedos, que aprendemos mais tarde terem sido plantados em meados de 2006 com algumas mudas importadas da França, e que para obter-se o vinho ali, o sistema de dupla poda foi empregado, criando o que chamamos de "colheita de inverno". O termo "terroir de inverno" surge novamente. Aqui descobrimos que cerca de 80 ha da propriedade estão cobertas com vinhas, dentre as quais encontramos Sauvignon Blanc, Syrah, Cabernet Franc e Sauvignon, entre outras. Continuamos então a visita ao restante da vinícola, do recebimento das uvas a parte produtiva, tanques, engarrafamento, caves de envelhecimento em barricas e em garrafa até o derradeiro final na sala de degustação. Tudo com muita tecnologia empregada, afinal o investimento feito ali passa da casa do milhão de reais. Além disso, descobrimos também que a vinícola conta ainda com o enólogo-residente chileno Cristian Sepúlveda e consultoria do americano Gustavo González, que são quem assinam os rótulos. Além do visual acachapante da vinícola e da região, a hora mais esperada é a da degustação, e como de praxe por aqui, iremos destacar dois vinhos para vosso deleite.
O primeiro vinho a destacarmos aqui é o Sauvignon Blanc Vale da Pedra 2015, um vinho que apesar de ser feito com uvas 100% Sauvignon Blanc, passa por um "blend" onde parte da fermentação foi realizada em tanques de inox e tanques de concreto em formato de ovo de concreto (tecnologia que proporciona a micro-oxigenação e uma fermentação mais delicada) e a a outra parte do vinho estagiou em barrica de carvalho francês de 600 litros. Após 12 meses, fez-se uma assemblage do tanque com a barrica. Como resultado temos um vinho de coloração amarelo palha bem clarinha com alguns reflexos dourados. No nariz aromas de frutos cítricos e tropicais, aspargos e uma leve lembrança floral. Na boca apresentou corpo leve para médio, acidez na medida e retrogosto marcado pelo cítrico, mas que confirma o olfato. Um bom vinho, mais equilibrado que muitos chilenos disponíveis por aqui.
O segundo vinho foi o Syrah Vista da Serra 2014, considerado um dos ícones da vinícola. Como o próprio nome já diz, o vinho é feito com uvas 100% Syrah da parcela que dá nome ao vinho, "Vista da Serra", com amadurecimento de 20 meses em barricas de carvalho francês. Como resultado, observamos um vinho de coloração violácea profunda, escura, com algum brilho e limpidez. No nariz o vinho apresentou aromas de frutos negros em compota, especiarias, chocolate e algo que lembrava eucalipto. Em boca o vinho se mostrou encorpado com boa acidez e taninos redondos. O retrogosto confirma o olfato e o final era longo e saboroso. Excelente vinho, bate de frente com a maioria de seus "concorrentes" chilenos e argentinos.
Incrível é quebrar paradigmas e verificar que o Brasil pode sim fazer bons vinhos, em diversas regiões do país, e que pode sim competir com alguns de nossos vizinhos. Tudo isso numa paisagem incrível e com muita organização, investimento e coisa e tal. O grande questionamento que eu deixo aqui é que, dadas todas as variáveis envolvidas no processo produtivo e de vendas de vinho (como a de taxação e impostos, a mais sensível no mercado nacional), o preço aplicado aos vinhos nacionais não me parecem compatíveis com o que o mercado consumidor está disposto a pagar, nem tem condições para tal. Gostaria de saber a opinião de vocês.
Conforme eu havia dito anteriormente, esta visita foi parte de um pacote de viagem enoturística preparada e apresentada pela Stelltour Viagens, uma agência de viagens que tem como mote viagens com destinos relacionados ao vinho. Atualmente a agência tem criado pacotes relacionados ao mundo do vinho no Brasil em conjunto com a sommeliére Mikaela Paim, que dentre outras atividades, podemos citar que é sommelière desde 2007, Presidente da Confraria Vinhos do Brasil, colaboradora da Osteria Generale há 15 anos e ainda trabalha com consultorias e Eventos Enogastronômicos. Eu recomendo tanto a visita como os pacotes de viagens da agência.
Até o próximo!
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