Dia desses me deparei com a coluna do Lauro Jardim para o Radar On Line da Veja e vi que existe uma espécie de discussão em andamento onde o mote principal é a qualidade, ou falta de qualidade, dos vinhos nacionais. Lendo alguns dos comentários dos leitores sobre a coluna e levando em conta minha pequena experiência sobre vinho, resolvi rabiscar umas linhas aqui no blog e gostaria de contar com a ajuda de vocês, meus leitores, para discutirmos de maneira saudável o assunto.
Começo então fazendo uma mea culpa, e já explico o por que. Até novembro do ano passado eu tinha muito preconceito ainda com os vinhos nacionais. Apesar de já ter entrado em contato com uma ou outra coisa boa e já tendo ouvido e muito sobre a qualidade de nossos espumantes, a questão era de que eu ainda não tinha provado consistência de qualidade com preços razoáveis nos nossos vinhos. Tá certo que minha rodagem nem é tão grande assim, mas era o que eu "tinha pra hoje", se é que vocês me entendem. E isso começou a mudar então quando eu decidi fazer uma viagem para conhecer algumas vinícolas em seu principal habitat, o Vale dos Vinhedos no Rio Grande do Sul. Hoje tenho uma visão um pouco diferente e acho que o Brasil tem sim uma produção de qualidade (até reconhecida fora) mas ainda falta alguma coisa para o reconhecimento interno. Nos próximos parágrafos, vou expor o que eu penso sobre.
Uma das principais novidades pra mim na época (e não faz muito tempo, meros 3/4 meses aproximadamente) e um dos motivos motrizes para este ganho de qualidade foi verificar o quanto de tecnologia atual tem se empregado nas vinícolas nacionais, até mesmo nas de pequeno porte (um exemplo disso é a Vinícola Almaúnica) mostrando que investimentos no quesito de produção são efetivamente feitos. Outros aspectos que contribuem também é que a maneira de condução das videiras praticamente migrou da latada para a espaldeira, e que não existem (ou praticamente não existem) mais vinhedos conduzidos desta forma arcaica e que não se encaixa no clima úmido da região além do adensamento das plantações e diminuição da quantidade de frutos por planta que também se mostraram efetivos por lá. Outras técnicas como chaptalização (em discussões para ser proibida/regulada no Brasil) e uso de chips de madeira tem sido feitas de maneira e esconder alguns defeitos e, a meu ver, quando bem utilizados (sem abusos) são bem vindos. Finalmente o uso de tanques de inox com temperatura controlada na fermentação e uso de madeira francesa e americana em doses consideradas "decentes" tem feito a diferença quando pensamos também nas técnicas enológicas mais modernas.
Por outro lado, dois aspectos principais ainda me fazem questionar o vinho nacional: o preço e os canais de distribuição dentro do próprio país. Veja, eu entendo um pouco do quão pesada é a carga tributária do país (até por que eu sinto na pele, em outras circunstâncias) ou o quanto é difícil e custoso todo o processo produtivo dos vinhos nacionais mas eu ainda enxergo que, para se tornarem definitivamente competitivos no mercado, é necessário que o valor de venda no mercado interno seja menor. E incluo nesta discussão a substituição tributária, custo logístico, pontos de venda, etc. No tocante aos canais de distribuição, eu entrei em contato com vinícolas lá no sul (peguem o caso da Angheben, por exemplo) que possui vinhos muito bacanas e a preços interessantes mas que dificilmente se encontram em São Paulo. E vejam, estou falando da maior cidade do país, concentração do poder aquisitivo e patati patacolá. Imaginem agora um enófilo que mora mais pro interior do país, como faria para encontrar estes vinhos e sequer entrar em contato com nossa viticultura de qualidade?
Com tudo isso, acho que mais do que discutirmos a qualidade de nossos vinhos, talvez deveríamos discutir competitividade, incentivos a pequenos produtores, mudança de tributação (bebida alcoólica x alimento) e uma série de outros fatores que, em conjunto com a qualidade dos mesmos, só fariam o consumo per capita do brasileiro aumentar mais e mais. E você, querido leitor do blog, qual seria sua opinião sobre o assunto?
Até o próximo!
Victor, esse papo vai longe.
ReplyDeleteConcordo com os seus argumentos, mas tem muito mais coisa envolvida.
Por exemplo, o vinho que mais vende é o vinho colonial, por que?
Muitos dizem que é porque é barato, agrada paladares, e muitas outras justificativas.
Apenas como exemplo, uma das vinícolas nacionais tem quase 50% do seu faturamento oriundo desses vinhos, por que será que isso continua e se fala tanto em melhorar a qualidade dos nossos vinhos?
Seria interesse financeiro? Seria hipocrisia?
Nós consumidores é que sempre pagamos o pato.
Eu sou um defensor do consumo de vinhos nacionais, assim como fazem outras nações, valorizando o próprio produto, mas quando os preços são muito abusivos pro consumidor interno, creio que os próprios produtores nacionais estão nos incentivando a comprar vinhos gringos.
Vamos debater mais, esse tema é muito interessante.
Aguinaldo Antonietto
Concordo totalmente com seu posicionamento e digo que não há dúvidas sobre o aumento da qualidade dos vinhos brasileiros, principalmente das pequenas e médias vinícolas. Uma informação importante é que já existe no Brasil um clube de vinhos brasileiros que envia com frete gratuito para qualquer parte do Brasil, ou seja, estamos diminuindo as distâncias entre os vinhos brasileiros e os consumidores
ReplyDeleteSua fotógrafa é muito boa!!!
ReplyDeleteMilena
Pessoal,
ReplyDeleteMuito obrigado pela visita. E mais do que isso, muito obrigado pelas opiniões e comentários. São comentários como estes, com idéias, que enriquecem a discussão, que fazem com que seja gratificante escrever aqui neste espaço.
Eu realmente entendo que este assunto é muito extenso, e eu só coloquei aqui algumas opiniões minhas a respeito, mas esta é só a ponta do iceberg.
Continuem conosco!!
Ps.: A fotógrafa é contribuidora ativa do blog, seja com fotos, comentários ou aparecendo de soslaio nas mesmas.
Buenas, Victor Beltrame.
ReplyDeleteTuas opiniões são lúcidas e corretas, concordo plenamente.
O vinho brasileiro, em particular o gaúcho, tem muita qualidade, sim.
Acontece que a carga tributária é excessiva e torna o produto caro para competir com os estrangeiros. Como exemplo cito o espumante Millenium da Miolo que adquiri por um determinado valor na própria vinícola e em Montevidéu encontrei esse mesmo espumante quase pela metade do preço. Urge um incentivo aos produtores nacionais.
Nosso mercado consumidor é muito preconceituoso, segue um exemplo:
ReplyDeleteEm uma degustação às cegas na ABS SP de cabernet franc, com vinhos importados, com preço médio superior à R$ 100, havia um vinho do RS infiltrado. Após a análise o vinho foi bem avaliado ficando em 3º lugar dentre todos, mas ao relevar que era um vinho nacional com preço de R$ 60,00 ouviu-se o comentário: "é muito caro para um vinho nacional"
Cheers!!!
Denys Roman
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