Estava lendo um artigo muito interessante que dizia que, antes de tudo, degustar um vinho vai muito além (e quando eu digo muito além, quero dizer muito mesmo) do que listar uma sério de descritores para aromas e sabores. E eu fiquei um pouco perplexo, não por não concordar com o artigo, mas por me dar aquele estalo de que na maioria dos lugares ou na maioria das vezes quando estamos degustando/escrevendo, nos prendemos a estes descritores de uma maneira quase xiita. Continuando pelo artigo, o autor ( Matt Kramer para a WineSpectator) nos brinda com sua sempre brilhante opinião sobre alguns aspectos muito mais importantes que devem ser notados quando degustamos um vinho. Abaixo listo quais são estes aspectos numa tradução/adaptação livre.
Textura: esta é uma característica do vinho que muitas vezes é negligenciada. No entanto, preste atenção à textura, ela pode ser o recurso "escondido" mais importante da qualidade do vinho. Isto é especialmente verdadeiro com vinhos brancos, um dos "brindes" para a qualidade e longevidade (potencial) de vinhos brancos secos é revelada pela textura. A esta altura o autor usa como exemplo um Borgonha feito em 1950 ou anteriormente, dizendo que podemos ser surpreendidos pela descoberta do quão espessa e densa a textura de tais vinhos normalmente é. Isto, ainda segundo ele, é devido a rendimentos muito baixos e tamanho de bagas pequenas. Esses recursos também eram (e são) críticos para a longevidade. De uma maneira mais simples, tais vinhos são texturalmente um convite para diluir sabores e vida curta, não importando o uso de um lote de carvalho novo e outros sabores adquiridos a partir de borras de agitação. A textura é quem manda na história.
Densidade de Extrato: cada degustador tem uma característica preferida nos vinhos. Para alguns é o buquê. Para outros é o comprimento final do um vinho, seja curto ou longo, intenso ou leve. Para o autor, entretanto, o que importa é a densidade do extrato que o vinho possui. Normalmente esta característica não é muito fácil de se reconhecer, mesmo para degustadores um pouco mais experientes. Eu me lembro muito bem de minha professora (Alexandra Corvo) frisar sempre que este era um aspecto fundamental, que dava sustentação e que fazia a diferença de um vinho bom para outro ruim. A maneira mais fácil de apreender esta noção é imaginar um doce com um centro duro, denso. Você pode ir derretendo o doce na boca achando que ele está se indo muito depressa. Então você chegar a esse centro, muito denso e você descobre que há muito mais por vir. Voilà! É o que poderíamos chamar de densidade de extrato. Para os fãs de Pilates, pense neste extrato como força central. Sem ele, um vinho é fraco. Os vinhos assim como as árvores, morrem de dentro para fora. Se um vinho carece de densidade de extrato, ele irá, com o tempo, revelar-se meramente superficial e vistoso. O extrato vem da vinha, ao invés da vinificação. É uma criação de baixos rendimentos e frutos pequenos, muitas vezes a partir de vinhas velhas.
Proporção: o elemento de proporção é facilmente compreendido. Um vinho, como uma pessoa atraente, deve ser razoavelmente proporcional. Não deve terminar "curto". Você deve ter uma sensação de sabores do vinho em quantidades aproximadamente iguais e nos mesmos intervalos de tempo: o cheiro, o gosto, o extrato e, criticamente, o final. Às vezes, especialmente com vinhos muito jovens, essas proporções podem ser distorcidas e depois entrar em uma maior igualdade. Mas com um vinho maduro, você deve esperar proporção razoável. Se ela não está presente, então o vinho ou está em uma curva descendente ou realmente nunca teve muita qualidade.
Finesse: este recurso é como os sabores de um vinho são entregues. Imagine uma bandeja no basquete, onde o jogador se aproxima em direção à cesta graciosamente e solta a bola rola pela ponta dos dedos e esta cai facilmente na rede. Isso é finesse. É assim que os vinhos devem entregar-se a você. Sem finesse, vinhos são desajeitados, não importa o quanto de complexidade possam ter. Finesse, como boas maneiras, é essencial para o refinamento.
Equilíbrio: este conceito significa coisas diferentes para diferentes degustadores. É um exemplo clássico de algo que você sabe o que é assim que o vê/sente suas qualidades. A noção mais básica de equilíbrio refere-se a um equilíbrio criado por quantidades aproximadamente iguais de "frutado" e acidez no vinho (e doçura de um vinho doce). O equilíbrio é essencial na medida em que faz um vinho revigorante para nós. Um vinho que não tem equilíbrio enjoa muito rapidamente. E olha que conseguimos notar o equilibrio (falta de) quase que desde o primeiro gole. Não é facilmente mensurável e está longe de ser exato. Um vinho, ao contrário de uma bailarina, não está equilibrado ou simplesmente está. Há sempre um intervalo em que constitui o equilíbrio para cada pessoa. Nos últimos anos, os vinhos se tornaram mais alcoólicos como resultado de uvas colhidas em níveis elevados de maturação, e o conceito de equilíbrio passou a incluir a capacidade de um vinho de "equilibrar" o seu nível de álcool com a densidade de frutas. É por isso que o equilíbrio tornou-se um termo tão proeminente no vocabulário do dia a dia do vinho.
Complexidade: o único padrão de grande valia que pode ser usado singularmente para avaliar a qualidade de um vinho é a complexidade. Quanto mais vezes você pode voltar a um copo de vinho e encontrar algo diferente nele, no buquê, no sabor, mais complexo é o vinho. Complexidade não é um padrão arbitrário. Estamos, de fato, criados para responder favoravelmente a ele. Nós temos grandes cérebros e córtex. Nós sabemos através de décadas de trabalho em psicologia experimental que durante um período de tempo, nós sempre buscamos estímulos mais complexos. A complexidade é mais do que a multiplicidade. Em se tratando de vinho, para ser verdadeiramente satisfatória, especialmente após uma exposição prolongada, deve continuamente nos surpreender (incerteza) e ainda assim devemos ser capazes de compreender essas surpresas, como parte de um padrão maior e agradável. Assim é com o vinho. Uma multiplicidade de sabores e aromas sem algum tipo de coesão se torna chocante e eventualmente irritante. A verdadeira complexidade está ai para nos surpreender, mas nunca para nos cansar. Isso não é um pequeno truque. Mas é ai que os grandes vinhos se destacam num mercado tão recheado, e podem ser aclamados como os maiores!
E você, meu caro leitor, se lembra de mais algum aspecto que possa ser interessante ou indispensavel para a degustação de vinhos? Use o espaço de comentários do blog e nos ajude a criar um conteúdo ainda melhor! Eu vou ficando por aqui.
Até o próximo!
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