Na noite do dia 12 de Novembro pude acompanhar uma aula sobre alguns dos terroirs brasileiros utilizados pela Vinícola Miolo para a produção de seus vinhos, em um jantar harmonizado com vinhos selecionados da Miolo Wine Group. A apresentação foi conduzida pelo enólogo consultor Lourenço Pedrotti, tendo como palco o restaurante Sta. Maricota, na zona sul de Sampa. Durante a palestra, o Chef Cesar Jafet criou e serviu alguns pratos para que fossem harmonizados com os rótulos apresentados.
O restaurante Sta. Maricota é um ambiente elegante e ao mesmo tempo despretensioso, aconchegante. A culinária tem como pano de fundo a Itália mas, com toques libaneses, segundo o próprio chef sugeriu em sua apresentação (terras de seus antepassados). Entretanto, esta mistura e o uso de ingredientes e produtos locais cria uma culinária moderna e multi cultural. Constituído de dois pisos, o local é ainda muito bem decorado com mesas quadradas e os pratos sempre sobrepostos a sousplats, de madeira.
A Miolo Wine Group é um dos maiores, se não o maior, grupo vitivinícola nacional, elaborando mais de 100 rótulos produzidos em seis projetos vitivinícolas no Brasil, em diferentes regiões: Vinícola Miolo (Vale dos Vinhedos, RS), Seival Estate (Campanha, RS), Vinícola Almadén (Campanha, RS), RAR (Campos de Cima da Serra, RS) e Vinícola Ouro Verde (Vale do São Francisco, BA). Produz também os vinhos do apresentador e narrador esportivo Galvão Bueno.
O interessante disso tudo é poder ver e entender um pouco a disparidade, principalmente climática, nas áreas produtivas: de pouco ou nenhuma chuva no Nordeste se contrapondo principalmente a alta umidade e pluviosidade da Serra Gaúcha, por exemplo. E o que dizer das altitudes, que variam até mesmo dentro das serras do Rio Grande Do Sul? É ai que entra o trabalho enológico de seleção de quais castas devem ser plantadas em quais regiões, tipos de vinhos a serem elaborados e assim por diante. E a idéia do enólogo Lourenço foi trazer alguns vinhos de diferentes regiões para que pudéssemos provar e tentar começar a entender o por que das escolhas da Miolo.
Para abrirmos os trabalhos fomos de Miolo Cuvée Tradition Brut, espumante elaborado pelo método tradicional francês (Chanpenoise) e num corte tradicional de uvas Chardonnay e Pinot Noir da Serra Gaúcha (Vale dos Vinhedos). Um vinho espumante essencialmente frutado e fresco, mas muito bem feito que lembrava frutos cítricos e tropicais aliados a leves toques de leveduras. Muito boa formação de perlage e acidez cativante. Abriu o apetite enquanto batíamos um papo e passávamos pela apresentação do Lourenço.
Com a entrada, formada por uma polenta frita com cogumelos frescos (deliciosamente crocante por fora, saborosa e cremosa por dentro) foram servidos dois vinhos para efeitos de comparação: o Bueno Bellavista Sauvignon Blanc com uvas provenientes da Campanha Gaúcha. Aspecto visual impecável mas nariz discreto e que demora a mostrar um pouco de fruta. Corpo leve, boa acidez e também um pouco de falta de extrato no meio de boca. Cresceu com a comida entretanto, ressaltando o aspecto frutado; e na sequência o RAR Collezione Pinot Noir, tinto com uvas também provenientes de Campos de Cima da Serra, este sim com mais tipicidade. Aromas de frutas vermelhas com toques animais e de baunilha. Bom corpo e acidez com taninos sedosos. Caiu bem com a untuosidade da polenta também.
Para o prato principal o Chef Cesar Jafet modernizou um clássico paulista: picadinho de carne com arroz branco e farofa. Deliciosa, a carne estava macia e saborosa em seu molho, que em conjunto ao arroz e a crocância da farofa faziam um bem pra alma. Dos vinhos servidos aqui, saiu o vencedor da noite. Vamos a eles. Primeiro o já famoso e conhecido Miolo Merlot Terroir, vinho feito com uvas Merlot do Vale dos Vinhedos além de passar um ano em barricas e mais um ano em garrafa antes de ir ao mercado. Complexo e denso, trás frutas vermelhas, flores, chocolate e tostado no nariz. Encorpado, taninos redondos e boa acidez. Belo vinho sem dúvidas. E o campeão da noite foi o Terra Nova Testardi Syrah, feito com uvas provenientes do Vale do São Francisco. É fermentado e estagia em barricas por um ano. Apesar de tudo tem algumas características de vinhos de clima frio, como a boa acidez, os taninos domados e a pimenta que salta ao nariz além é claro das frutas negras frescas. Tem uma certa pegada animal também que impressiona. Vinhaço!
E pra fechar com chave de ouro um belo e delicioso pudim de capuccino , doce na medida e com a pegada mais amarga do café, combinou muito e deu uma dose de glicose depois de tanto vinho. Ainda volto lá mais vezes pra conhecer a cozinha do Chef. E assim mais um delicioso evento teve cobertura por aqui. Um agradecimento aos organizadores e aos presentes por compartilhar tanta informação em mais uma noite dessas.
Até o próximo!
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